No ápice da Revolução Industrial foi inventada na Inglaterra uma das mais incontestáveis e abrangentes ditaduras do mundo: a ditadura do terno.
Muitos podem argumentar que roupas formais sempre existiram e que usar um terno pode ser algo elegante e motivador para um homem, mas eu continuo com a minha opinião de que o terno é uma das mais odiosas formas de dominação cultural. De maneira silenciosa, com poucas rejeições, ele virou uma convenção mundial de formalidade e quase um requisito para os homens que desejam estar integrados ao mercado de trabalho e à sociedade na qual vivem. Da Áustria à Austrália, um bom terno serve para separar os bem sucedidos dos vagabundos.
Eu até concordo que um pouco de simbologia, como a presente nos formalismos de um terno, pode simplificar muitas das relações sociais em um país. Mas se este país está quase completamente localizado entre o Trópico de Capricórnio e a Linha do Equador, se apoiar em um argumento destes é algo, no mínimo, irracional. Usar um terno pode funcionar muito bem em nações de clima temperado como as da Europa e América do Norte, mas não existe nenhuma razão para implantar o mesmo sistema aqui no Brasil. A não ser que alguém tenha um fetiche secreto em suar como um porco indo para o abate.
Anualmente, gastamos centenas ou até milhares de gigawatts-hora exclusivamente com aparelhos de ar condicionado cuja única função é possibilitar o uso de trajes formais em ambientes fechados. Este desperdício energético, que consome muito do que é produzido em nossas hidrelétricas, resulta em gastos de milhões de reais que poderiam ser usados para investimentos em educação, saúde ou segurança. Ou seja, quanto mais ternos usamos, menos hospitais e escolas teremos.
Agora, por que insistimos em uma convenção burra que atropela todas as nossas singulares características climáticas, geográficas e sociais? Por que não podemos ser como os árabes e seus Thawbs ou os paquistaneses e usar Sherwanis, ambas vestimentas formais e absolutamente próprias para locais quentes como seus países de origem?
A verdade é que somos vítimas de um turbilhão de estímulos culturais que nos encorajam a adotar essas roupas tão inapropriadas. No cinema, na televisão, nas revistas e outdoors, os ternos nos vigiam como uma condição sine qua non para o bem sucedido. Enquanto James Bonds, David Beckhams e mesmo William Bonners não existirem separados de seus ternos, vai ser difícil derrubarmos essa ditadura.